Madeleines (de proust)

2h20
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Fácil

O bairro do Marais, em Paris, é um dos bairros mais antigos da cidade. O legal é que ele não participou da renovação haussmaniana da capital, no final do século 19, quando as pequenas ruelas deram origem à largas avenidas. Por isso guarda ruazinhas estreitas e passagens misteriosas que são cheias de charme. 

 

É no Marais que fica o museu Carnavalet, uma visita imperdível para quem quer conhecer mais sobre a origem de Paris e seus habitantes ilustres. Neste museu estão os móveis do apartamento do escritor Marcel Proust e foi por isso que eu tive a ideia de fazer madeleines, neste episódio, pra vocês. Explico:
Quando comemos alguma coisa que nos faz pensar nos momentos de nossa infância diz-se que aquela coisa comida é uma madeleine de Proust. Isso porque o escritor decidiu escrever uma das suas obras mais famosas depois de provar madeleines ao lado de uma xícara de chá e, a partir daí, começar uma viagem nostálgica pelas memórias de sua infância. No primeiro volume, de sete, do romance “Em Busca do Tempo Perdido”, o autor relata sua fonte de inspiração:

 

“Muitos anos fazia que, de Combray, tudo quanto não fosse o teatro e o drama do meu deitar não mais existia para mim, quando, por um dia inverno, ao voltar para casa, vendo minha mãe que eu tinha frio, ofereceu-me chá, coisa que era contra os meus hábitos. A princípio recusei, mas, não sei por quê, terminei aceitando. Ela mandou buscar um desses bolinhos pequenos e cheios chamados madalenas e que parecem moldados com aquele triste dia e a perspectiva de mais um dia tão sombrio como o primeiro, levei aos lábios uma colherada de chá onde deixara amolecer um pedaço de madalena. Mas no mesmo instante em que aquele gole, de envolta com as migalhas do bolo, tocou o meu paladar, estremeci, atento ao que se passava de extraordinário em mim. Invadira-me um prazer delicioso, isolado, sem noção da sua causa.

 

Esse prazer logo me tornara indiferentes as vicissitudes da vida, inofensivos os seus desastres, ilusória a sua brevidade, tal como o faz o amor, enchendo-me de uma preciosa essência: ou antes, essa essência não estava em mim; era eu mesmo. Cessava de me sentir medíocre, contingente, mortal. De onde me teria vindo aquela poderosa alegria? Senti que estava ligado ao gosto do chá e do bolo, mas que o ultrapassava infinitamente e não devia ser da mesma natureza. De onde vinha? Que significava? Onde aprendê-la? Bebo um segundo gole em que não encontro nada demais que no primeiro, um terceiro que me traz um pouco menos que o segundo. É tempo de parar, parece que está diminuindo a virtude da bebida. É claro que a verdade que procuro não está nela, mas em mim.

 

 

A bebida a despertou, mas não a conhece, e só o que pode fazer é repetir indefinidamente, cada vez com menos força, esse mesmo testemunho que não sei interpretar e que quero tornar a solicitar-lhe daqui a um instante e encontrar intacto à minha disposição, para um esclarecimento decisivo. Deponho a taça e volto-me para o meu espírito. É a ele que compete achar a verdade. Mas como? Grave incerteza todas as vezes em que o espírito se sente ultrapassado por si mesmo, quando ele, o explorador, é ao mesmo tempo o país obscuro a explorar e onde todo o seu equipamento de nada lhe servirá. Explorar? Não apenas explorar: criar. Está em face de qualquer coisa que ainda não existe e a que só ele pode dar realidade e fazer entrar na sua luz. (…)”

 

A HISTÓRIA DAS MADELEINES

Em 1755, Stanislas, o Rei da região da Lorraine, organiza um jantar. No meio da festa, o pâtissier da corte briga na cozinha e pede demissão, deixando a refeição sem sobremesa.

Para resolver o problema, uma jovem serviçal que trabalhava ali faz um bolinho que era receita da sua família.

 

Quando come o doce, o rei pergunta quem fez a sobremesa. A jovem se apresenta, ainda com as mãos sujas de farinha. O rei pergunta o nome da receita e a moça diz que não tem um nome, que é uma receita tradicional de sua cidade, Commercy, em dias de festa. O rei então pergunta o seu nome e ela responde: Madeleine. A partir daí esses bolinhos, em forma de concha, ficaram conhecidos como madeleines de Commercy.

Ingredientes

-2 ovos
-1 gema
-100g de açúcar
-raspas de meio limão-siciliano (facultativo)
-1 pitada de sal
-120g de farinha
-½ colher (chá) de fermento químico
-100g de manteiga sem sal derretida

 

Modo de preparo

Misture os ovos, a gema e o açúcar até dissolver todo o açúcar. Adicione as raspas de limão ou essência de baunilha se preferir. Coloque também uma pitadinha de sal. Adicione o fermento e a farinha aos poucos, mexendo sempre com um fouet. Depois vá colocando a manteiga derretida (já fria) até obter uma massa lisa e homogênea. Leve a massa para gelar por cerca de 2 horas.

Preencha as forminhas de madeleine (eu usei formas de silicone então não precisei untar e enfarinhar, mas se for usar forma de ferro, unte e enfarinhe). Caso não tenha as forminhas próprias, em forma de concha, você pode usar forminhas para minicupcakes.

 

Não preencha as formas até o topo porque a massa cresce no forno e pode transbordar. Asse por 13 minutos em forno pré-aquecido a 180 graus.

vídeo da receita
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